segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Atrasos e falta de controle ameaçam legado da Copa


Na Folha de S.Paulo, hoje

Governo não consegue acompanhar andamento de obras associadas a evento

Cidades-sede admitem organizar jogos com a infraestrutura atual e recorrer a feriados para minimizar problemas

MARIANA BARBOSA e RODRIGO MATTOSDE SÃO PAULO

          Quase quatro anos após o Brasil ser escolhido como sede da Copa de 2014, o governo perdeu o controle do andamento das obras ligadas ao evento e pôs em risco o legado de infraestrutura que ele poderia deixar para o país.Divulgado há 11 dias, o balanço mais recente do governo sobre os projetos da Copa já está desatualizado. Prazos indicados no documento não batem com informações das cidades-sede, e outros soam irreais diante dos problemas que as obras têm enfrentado.Autoridades que acompanham os preparativos para a Copa já falam em organizar os dias de jogos com a estrutura hoje disponível, sem contar com as novas obras.          A promessa do governo de entregar nove estádios no final de 2012 também já caiu por terra, com novos atrasos.No capítulo transportes, há problemas como o do monotrilho do eixo norte/leste de Manaus. Além de sofrer questionamentos da CGU (Controladoria-Geral da União), a obra pode estourar o prazo.          A previsão do governo do Amazonas é de início das obras em novembro de 2011 e conclusão em maio de 2014, dois meses antes da Copa. O governo reconheceu que pode não concluí-la a tempo."Obras grandes como essa sempre podem estourar o prazo. Mas [se o prazo for estourado] será concluído mesmo depois", afirmou o coordenador para Copa 2014 de Manaus, Miguel Capobiango.          Em Recife, o secretário estadual da Copa, Ricardo Leitão, prevê o começo da execução de quatro projetos para o início de 2012. O governo federal, para novembro.          O discurso das cidades-sede é o de que a maioria das obras não são imprescindíveis para a realização dos jogos. "Se houver dificuldade, focamos só na obra do acesso ao estádio", disse Leitão.Representantes das seis cidades ouvidas pela Folha admitiram que podem trabalhar com feriados em dias de jogos para atenuar problemas."Podemos criar um ponto facultativo para os funcionários públicos que trabalham naquela região do Beira-Rio", contou o secretário de mobilidade urbana de Porto Alegre, Vanderlei Cappellari.          São Paulo fala em feriado na abertura da Copa. E em reduzir o fluxo de pessoas em metrô e trem para não atrapalhar o público dos jogos.Nos aeroportos, o Brasil já perdeu a chance de deixar um legado, de acordo com os especialistas. "Agora estamos correndo atrás da demanda", afirmou o professor Elton Fernandes, da Coppe/UFRJ.          Dos 13 terminais da Copa, 7 devem ter a capacidade ampliada com instalações provisórias, os puxadinhos. "Eles têm um custo muito inferior e dão conta do recado", diz Jaime Parreira, diretor de engenharia da Infraero.Não falta dinheiro federal. Até agora, são R$ 6,5 bilhões para aeroportos, R$ 8 bilhões para mobilidade urbana e R$ 400 milhões por estádio.Ainda assim, das 49 obras de mobilidade urbana da Copa, só 9 começaram. Oito dos 13 aeroportos iniciaram reformas. E pelo menos cinco estádios vão estourar o prazo inicial fixado pela Fifa.          A situação gera incômodo na entidade. "Estamos preocupados com qualquer atraso, por qualquer razão", afirmou o secretário-geral da Fifa, Jerôme Valcke, por meio de sua assessoria.          Por contrato, a Fifa pode tirar a Copa do Brasil na ausência de melhorias no sistema de transporte. O histórico da entidade sugere que é improvável que isso ocorra, mas o discurso dos dirigentes da Fifa certamente mudou.
Em 2007, relatório da Fifa concluiu que a infraestrutura do país era adequada e só viu problemas em Cuiabá e Natal. Quatro anos depois, a infraestrutura disponível para os jogos na maioria das cidades-sede é a mesma.
Modificar obras é natural, afirma governo

União diz monitorar com atenção projetos da Copa, que balanço é retrato atual e espera mais impulso em obras

          "Obras de infraestrutura estão sujeitas a interferências externas de natureza diversa, de modo que é natural ocorrer alterações no decorrer do processo de implantação."          Essa é a explicação do governo federal para mudanças em cronogramas de projetos de mobilidade urbana nas cidades-sede da Copa, assim como a defasagem de pontos do balanço do Mundial.          A resposta foi dada pelos ministérios do Esporte, do Planejamento e das Cidades.Os prazos das obras foram fornecidos pelos governos locais, estadual e municipal, disseram as pastas.De acordo com o governo federal, o documento reflete "o avanço das obras até aquele momento de divulgação". E explicou que, além disso, existe um monitoramento constante.          O governo reafirmou prazos para início e conclusão de obras nos projetos de mobilidade urbana de Recife e do monotrilho de Manaus.Em relação ao VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) de Cuiabá, os ministérios afirmaram estar monitorando o cronograma proposto pelo governo de Mato Grosso.          Sobre o projeto de mobilidade de Salvador, a informação é que "as três esferas de governo estão em fase final de entendimentos no âmbito do PAC de Mobilidade Grande Cidade e, em breve, será anunciada a solução a ser adotada para o município". O projeto foi alterado, com troca de ônibus por metrô.          Em uma análise geral das obras de mobilidade urbana, o governo diz que "existem níveis diferenciados de andamento, dependendo da cidade e do tamanho do projeto". E avalia que "alguns temas dentro da mobilidade urbana exigem atenção".Mas o governo disse que "existe um compromisso das cidades para dar mais impulso ao andamento das obras".Em relação aos estádios, o governo só admite revisão do prazo de entrega do Maracanã, feito após a divulgação do balanço da Copa. Os outros dados são de responsabilidade de Estados e prefeituras.          Mas os ministérios ressaltaram a parceria com eles "de modo a garantir a entrega das obras no prazo estipulado".
Não há previsão de exclusão de obra do programa do governo e o próximo balanço sairá em janeiro de 2012.(MARIANA BARBOSA E RODRIGO MATTOS)
Por José da Cruz às 17h21

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