terça-feira, 22 de março de 2011

Segundo Tempo: mais um caso de Polícia



Por José da Cruz

Sabem quem são Valter da Silva e Olivier Júnior, envolvidos com falcatruas no Segundo Tempo, como a que publiquei na mensagem anterior a esta? é uma dupla especialista no assunto, conforme revela uma reportagem que saiu em O Globo, em 30 de março de 2008.

Justamente por serem perigosos, é de estranhar que, mesmo assim, o Ministério do Esporte tenha firmado convênio com os espertos.

Isso só mostra a fragilidade com que o Segundo Tempo é executado, sem conseguir diferenciar entre gente séria e assaltantes. E, assim, o projeto social transforma-se em mais um entre os vários que já foram parar na investigação policial.

A reportagem de O Globo foi publicada, também, no Blog de Juca Kfouri, onde fui buscar o texto, alertado pelo amigo Marcelo Ribeiro, atento observador de falcatruas e com ótima memória. Confiram:

Jogo pesado no Segundo Tempo

Ministério do Esporte comprova irregularidades em ONG com recursos para crianças carentes

Ary Cunha e Bernardo Mello Franco
RIO e BRASÍLIA

Crianças andando de bicicleta ou jogando bola na calçada são as únicas atividades físicas esporadicamente visíveis em frente à Rua Sibéria, 844, em Bangu.

É no endereço ocupado por uma casa de portão alto, pintura desgastada, telhado colonial e sem campainha que o Ministério do Esporte acreditava estar a sede da ONG Sociedade Humanitária de Assistência Social e Cultural (Sohasc).


Entre 2004 e 2005, a entidade recebeu dos cofres públicos R$ 533.996,33 através do programa Segundo Tempo.

O dinheiro desapareceu e uma auditoria do ministério constatou a fraude que pode ter deixado até seis mil crianças e adolescentes sem aulas de prática esportiva e reforço escolar.


Ao visitar os locais indicados no plano de trabalho, os fiscais do ministério não encontraram indícios do programa.

“Restou constatada a inexistência de núcleos em funcionamento e a inexistência de crianças atendidas”, diz o relatório de auditoria, feito a cinco dias do fim do convênio.

De acordo com a auditoria, a Sohasc não desenvolveu qualquer atividade em sete das 11 comunidades a serem atendidas na Zona Oeste. Apenas 1.365 das 6 mil crianças que seriam beneficiadas pelo convênio 76/2004 foram cadastradas, sem provas de que teriam mesmo sido atendidas.


Depois de três anos, o caso deve parar no Tribunal de Contas da União.


A Sohasc teve sua primeira prestação de contas reprovada e, em edital publicado há três semanas no Diário Oficial da União, o ministério intimou o presidente da ONG, Valter da Silva Oliveira, a entregar nova prestação de contas ou devolver o dinheiro até o último dia 20.

Oliveira, que assinou o convênio com o Segundo Tempo, em julho de 2004, ignorou as notificações sobre irregularidades e, segundo o ministério, encontra-se “em local incerto e não sabido”.
— Quando o projeto começou, houve muito atraso. O material que vinha do programa “Pintando a liberdade” (bolas, uniformes e outros itens), demorou três meses e eu fiquei situação delicada. Aí, eu saí três meses depois que assinou o convênio — afirma Olivier Ferreira Pinto Júnior, que ainda consta no site do Segundo Tempo como coordenadorgeral da Sohasc.
— Inscrevemos seis mil pessoas na associação de moradores da Favela do Barbante, em Campo Grande, mas o trabalho nunca começava.

Tráfico é usado como justificativa

A casa que deveria ser a sede da Sohasc pertence ao vice-presidente Almir Gomes. No dia em que o prazo para a entrega de uma nova prestação se esgotou, ele afirmou ao GLOBO que não sabia que as contas da Sohasc haviam sido rejeitadas.

— A prestação não foi aprovada? Não sabia disso — diz Gomes, negando ter sido procurado pelo ministério.

— O trabalho foi feito. Não houve sacanagem.

Para o ministério, porém, ainda há muito a ser esclarecido.
A Sohasc deixou de cadastrar os profissionais envolvidos e de apresentar relatórios exigidos no contrato.

Os responsáveis pela ONG chegaram a atribuir as falhas de execução a problemas com o tráfico de drogas.


Apesar das irregularidades, a entidade ainda tentou renovar o convênio por mais um ano em maio de 2005, sem sucesso.

Um mês antes, o deputado Noel de Carvalho (PMDB-RJ) apresentara projeto de lei declarando a Sohasc como “Entidade de Utilidade Pública".

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