Por José da Cruz
Sabem quem são Valter da Silva e Olivier Júnior, envolvidos com falcatruas no Segundo Tempo, como a que publiquei na mensagem anterior a esta? é uma dupla especialista no assunto, conforme revela uma reportagem que saiu em O Globo, em 30 de março de 2008.
Justamente por serem perigosos, é de estranhar que, mesmo assim, o Ministério do Esporte tenha firmado convênio com os espertos.
Isso só mostra a fragilidade com que o Segundo Tempo é executado, sem conseguir diferenciar entre gente séria e assaltantes. E, assim, o projeto social transforma-se em mais um entre os vários que já foram parar na investigação policial.
A reportagem de O Globo foi publicada, também, no Blog de Juca Kfouri, onde fui buscar o texto, alertado pelo amigo Marcelo Ribeiro, atento observador de falcatruas e com ótima memória. Confiram:
Jogo pesado no Segundo Tempo
Ministério do Esporte comprova irregularidades em ONG com recursos para crianças carentes
Ary Cunha e Bernardo Mello Franco
RIO e BRASÍLIA
Crianças andando de bicicleta ou jogando bola na calçada são as únicas atividades físicas esporadicamente visíveis em frente à Rua Sibéria, 844, em Bangu.
É no endereço ocupado por uma casa de portão alto, pintura desgastada, telhado colonial e sem campainha que o Ministério do Esporte acreditava estar a sede da ONG Sociedade Humanitária de Assistência Social e Cultural (Sohasc).
Entre 2004 e 2005, a entidade recebeu dos cofres públicos R$ 533.996,33 através do programa Segundo Tempo.
O dinheiro desapareceu e uma auditoria do ministério constatou a fraude que pode ter deixado até seis mil crianças e adolescentes sem aulas de prática esportiva e reforço escolar.
Ao visitar os locais indicados no plano de trabalho, os fiscais do ministério não encontraram indícios do programa.
“Restou constatada a inexistência de núcleos em funcionamento e a inexistência de crianças atendidas”, diz o relatório de auditoria, feito a cinco dias do fim do convênio.
De acordo com a auditoria, a Sohasc não desenvolveu qualquer atividade em sete das 11 comunidades a serem atendidas na Zona Oeste. Apenas 1.365 das 6 mil crianças que seriam beneficiadas pelo convênio 76/2004 foram cadastradas, sem provas de que teriam mesmo sido atendidas.
Depois de três anos, o caso deve parar no Tribunal de Contas da União.
A Sohasc teve sua primeira prestação de contas reprovada e, em edital publicado há três semanas no Diário Oficial da União, o ministério intimou o presidente da ONG, Valter da Silva Oliveira, a entregar nova prestação de contas ou devolver o dinheiro até o último dia 20.
Oliveira, que assinou o convênio com o Segundo Tempo, em julho de 2004, ignorou as notificações sobre irregularidades e, segundo o ministério, encontra-se “em local incerto e não sabido”.
— Quando o projeto começou, houve muito atraso. O material que vinha do programa “Pintando a liberdade” (bolas, uniformes e outros itens), demorou três meses e eu fiquei situação delicada. Aí, eu saí três meses depois que assinou o convênio — afirma Olivier Ferreira Pinto Júnior, que ainda consta no site do Segundo Tempo como coordenadorgeral da Sohasc.
— Inscrevemos seis mil pessoas na associação de moradores da Favela do Barbante, em Campo Grande, mas o trabalho nunca começava.
Tráfico é usado como justificativa
A casa que deveria ser a sede da Sohasc pertence ao vice-presidente Almir Gomes. No dia em que o prazo para a entrega de uma nova prestação se esgotou, ele afirmou ao GLOBO que não sabia que as contas da Sohasc haviam sido rejeitadas.
— A prestação não foi aprovada? Não sabia disso — diz Gomes, negando ter sido procurado pelo ministério.
— O trabalho foi feito. Não houve sacanagem.
Para o ministério, porém, ainda há muito a ser esclarecido.
A Sohasc deixou de cadastrar os profissionais envolvidos e de apresentar relatórios exigidos no contrato.
Os responsáveis pela ONG chegaram a atribuir as falhas de execução a problemas com o tráfico de drogas.
Apesar das irregularidades, a entidade ainda tentou renovar o convênio por mais um ano em maio de 2005, sem sucesso.
Um mês antes, o deputado Noel de Carvalho (PMDB-RJ) apresentara projeto de lei declarando a Sohasc como “Entidade de Utilidade Pública".
Nenhum comentário:
Postar um comentário